segunda-feira, 29 de julho de 2013

Era uma vez um Guimarães ...

Tutu nasceu em Bebedouro em 24 de Janeiro de 1909,  ainda bem jovem, por volta dos 15 anos, mudou-se com os pais para São José do Rio Preto. De início moraram junto com os avós maternos dele, Candido Spínola de Castro e Diolinda Cotrim, até se mudarem para casa própria, em um sitio próximo a cidade.
Wagner de Oliveira Guimarães, o Tutu, era filho dos baianos Olindo de Oliveira Guimarães e Arlinda Spinola e Castro. Olindo era homem do campo e em Rio Preto criava gado, desde criança meu avô ajudava o pai, entregando leite pela cidade. 
Seu primeiro emprego fora de casa foi com a família Verdi*, como boiadeiro, levava gado pelos confins dos sertões de Mato Grosso e Goiás.
Numa destas viagens conheceu Sebastiana, que morava com os pais em uma fazendo no “sertão de Rio Preto”, próximo de onde hoje existe a cidade de Jales, seria sua futura esposa.
Sebastiana Borges Guimarães nasceu em Barretos em 20 de Outubro de 1915, filha de Virginio Borges de Lima e Felizarda Deolinda de Abreu, passou sua infância e juventude na fazenda do pai, próxima a Jales.
Tutu precisou parar temporariamente suas viagens como boiadeiro pelos sertões para cumprir a “obrigação com a pátria”, se alistar (e servir) o exército.  Já namorava minha avó quando mudou-se para um quartel em Jundiaí.
Estava lá em 1932, quando contrariados com a tomada do poder a força por Getulio Vargas, os paulistas resolveram tentar tirar o ditador na base das armas**, meu avô participou da revolução, mas não atuou por muito tempo. Quando montava uma peça de artilharia no Vale do Paraíba sua tropa foi surpreendida pelos soldados cariocas, ficou então preso durante todo o perído na Ilha Grande.
Passada a guerra e a prisão voltou para as boiadas. Em 1935 meus avós se casaram e ficaram morando com os pais dela. Em 1939 o pai de Tutu, Olindo, comprou a fazenda Santa Rita (pela região, não sei ao certo onde), meu avô e seu irmão Carlos, o Lolô, foram para lá trabalhar.
Tutu e Sebastiana devem ter se mudado para General Salgado*** em 42 ou 43.  Lá já estavam os pais da minha avó Sebastiana, Virginio Borges de Lima e Felizarda Deolinda de Abreu, que estão entre os casais que ajudaram a fundar a cidade, Virginio Borges de Lima hoje é nome de uma das ruas centrais da cidade.
Em Salgado compraram um sítio feito do desmembramento de parte da Fazenda Limoeiro, do Tonico Barão, fundador da cidade. Foi neste sítio, numa casa improvisada de “pau a pique” que nasceu minha mãe, a filha mais velha. A casa de pau era a moradia provisória deles enquanto a residência definitiva era construída. Minha mãe nasceu em 12 de Março de 1943.
Além da minha mãe tiveram mais quatro filhos, minha tia Felizarda (homenagem a avó materna), e meus tios Olindo (homenagem ao avô paterno), Virgínio (homenagem ao avô materno) e Wagner (nome do pai). A idéia de homenagear os avós no nome dos netos foi do Tutu e só veio no segundo filho, por isso minha mãe se chama Valda e não Arlinda.
Para facilitar o dia a dia das crianças na escola mudaram-se para mais perto da cidade, em terra que ganharam de Virginio em 1951. Ainda comprariam as terras que ficavam entre esta e a propriedade antiga, formando um único sítio. Meu avô criava gado, tirando renda da venda de bezerros e do leite, também chegou a ter uma pequena plantação de café. Repetindo o ofício de criança em Rio Preto, andava pela cidade entregando leite aos clientes.
Esta nova residência próxima a cidade era a que na minha infância nós chamávamos de  “casa velha”, pois por volta de 82 eles se mudaram para a “casa nova” na mesma propriedade, neste tempo o cenário já era bem urbano e meu avô já havia vendido boa parte da propriedade antiga, o restante foi dividido entre os filhos.
Mas no grande terreno onde moravam (uma chácara dentro da cidade) haviam vestígios das antigas atividades dele, entre eles um terreiro de café****, que depois virou o campo de futebol para os netos, onde me lembro do meu avô jogando de goleiro, aliás, ele gostava de contar histórias dos jogos nas fazendas e mostrava fotos do time do exército, meu avô era Palmeirense.
Tenho muitas lembranças deles, passava grandes férias por lá na infância e adolecência, eu, da primeira geração nascida em cidade grande, pude conhecer um pouco da vida na fazenda, moíamos café, carne, ajudávamos a vó a fazer linguiça, cuidar das galinhas, etc, etc ... essas histórias ficam para depois.
Sebastiana faleceu em São Paulo, quando visitava filhos e netos em 03 de Outubro de 1990, no mês que completaria 75 anos, após um infarte. Tutu morreu “de velho” em Novembro de 1999, aos 90 anos em General Salgado, ambos estão enterrados no Cemitério de General Salgado.

***
Eu e meu Vô Tutu - 1982

PS:  Fonte: sobre meus avós minhas lembranças e principalmente as da minha mãe. Outras referências encontrei na internet.

* Os Verdi eram família rica em Rio Preto, chegando a ser conhecidos como os Reis do Algodão. Nos anos 50, fundaram o Grupo Rodobens, primeiro consórcio para caminhões no país. Hoje o patrimônio do grupo é estimado em R$ 5,5 Bilhões. Mas a história da família também ficou marcada por acidentes aéreos, em 1960, Milton Terra Verdi e seu cunhado, tiveram que fazer um pouso forçado na Bolívia quando iam para Santa Cruz de La Sierra, os dois morreram na selva e Milton deixou um díario com seus últimos dias, que viraria livro (foram 70 dias na selva !!). Mais recentememte, em 2009 outro Verdi, Raimundo Verdi Macedo, este de Fernandópolis, faleceu quando o monomotor que viajava caiu em Santa Izabel. 
** A revolução não tirou Getúlio do poder,  Mineiros e Gaúchos “traíram o movimento”, deixando os paulistas sozinhos, e o ditador ficou lá até 45. Apesar disso a Revolução de 1932 virou símbolo de defesa a democracia e é o motivo do feriado paulista de 9 de Julho.   
*** General Salgado é um município paulista da região de São José do Rio Preto, terra onde eu passava longas férias na infância e adolescência, de lá tenho muitas histórias pra contar !!
**** A cultura de café é fato marcante na história da família, foi por isso que viemos para o interior de São Paulo no final do século retrasado, mas isso fica pra outro dia ...

5 comentários:

  1. deu saudades do tio Tutu, da Tia Sebastiana e sua comida deliciosa,Tio Lolo sempre sorridente, das tardes quentes de Salgado, do campo de aviação né Wagner Borges Guimaraes,das broncas da minha avó Orminda, que adorava ter longas conversas com o irmão,muitas gostosuras e travessuras, bons tempos.

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  2. Deu saudades do tio tutu da tia Sebastiana de meus primos valda da zarda wagner e olinfo e etc. meus avós decio e pricipalmente a vo antonia sempre me levavam nas férias em salgado. muito leite tirado na hora e muita conversa boa sem contar nas estripolias. muitas saudades.

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  3. que bacana poder ler esse relato . Meu nome é Lilian a gente é parente distante. Meu pai é o Cilas, filho de Anézia e José Arcebispo de Lima, este filho de Virginio e Felizarda. Vc sabe me dizer se algum deles(Virginio ou Felizarda) eram imigrantes ou descendentes??

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    1. Oi Lilian, um prazer ter contato com você, lembro da minha mae Valda comentar sobre o primo Cilas. Sei que Virginio e Felizarda eram brasileiros e os pais deles também. Infelizmente não consegui avançar mais na descendencia deles.

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  4. Boa noite Ricardo,
    Fui aluno de tua mãe (Dona Valda) em General Salgado, lá pelos idos de 1970.
    Conheci o Sr. Tutu e os teus tios Olindo e Virginio.

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