quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Manuel Pires de Carvalho e a origem da família Cotrim

Manuel Pires de Carvalho Cotrim é pai do Capitão Antonio Xavier de Carvalho Cotrim, considerado o fundador da família Cotrim na Bahia (do Antônio Xavier já falei em outro texto).

Provavelmente é o Manuel que encontrei registro de ter nascido 1682, filho de um outro Manuel Cotrim, este casado com Maria Ferreira. Seria neto de Baltazar Cotrim e Laurenciana Ramos da Vila Chã, freguesia do Conselho de Pombal em Portugal, hoje com o nome de Vila Cã.

O que tenho mais certeza é que nasceu em Ferreira do Zezére, teve pelo menos quatro filhos, sendo que um deles nasceu em 1707 em Lisboa. Foi familiar do Santo Ofício (embora não tenha encontrado o seu processo de nomeação) e foi casado com Andresa Joseja da Silva, sendo que o site da família Cotrim a coloca como “Ama de leite da Infanta D. Teresa de Portugal”, (deve ser a Teresa de Bragança, filha de Pedro II de Portugal, irmã de D. João V, avô da Rainha Maria I, a louca. Teresa nasceu em 1696 e morreu em 1704 com apenas 8 anos), por aqui podemos supor que o primeiro filho de Andresa e Manuel nasceu também por volta de 1700 e que nesta época já estavam em Lisboa.

Sei que tiveram estes filhos: Benedito Manoel Egas Jose de Carvalho Cotrim, Francisco Xavier de Carvalho Cotrim (Alferes de Cavalos) Antonio Xavier de Carvalho Cotrim (meu Sétimo-Avô e Teodora Antônia Caetana da Silva Cotrim (esta também natural de Lisboa). Segundo outra fonte seu pai teria sido um cirurgião. Também descobri que João Baptista de Carvalho  (pai de Manuel Caetano de Carvalho ) seria seu irmão. (Informações baseadas no processo de nomeação de familiares do Santo Ofício de dois dos filhos dele).

Sobre os pais estou estou me baseando no relato abaixo, aqui não dá para ter certeza que é ele mesmo, mas é bem próvável pelo ano e local:

“Relativamente aos Cotrins de Vila Chã, possuo a seguinte informação: No século XVII viveram na freguesia do Beco dois irmãos. Miguel e Manuel Cotrim, naturais de Vila Chã, Pombal e filhos de Baltasar Cotrim e Laurenciana de Barros. Ainda de acordo com os registos paroquiais do Beco, Miguel Cotrim casou com Iria Nunes a 9.6.1664, sem geração conhecida enquanto que Manuel Cotrim "o mestre" de alcunha, casou a (?) com Maria Ferreira de quem teve; Brizida (1678), Manuel (1682) e Mariana (1683)*. anos em que foram baptizados na paróquia do Beco.”

Segundo a história dos Cotrims, todos os desta região de Portugal seriam descendentes do inglês James Cottrell, que depois adotou o nome de Jayme Cotrim. Estudando a genealogia ao contrário (ou seja pela descendencia deste Jayme) existem muitas linhas quebradas, pessoas sem registro dos filhos, ou mesmo com apenas um filho, o que não era normal para a época. De acordo com vários estudiosos da família e até os que estudam a família inglesa (Catterall), a chance de que Manuel seja descendente de Jayme Cotrim é muito grande. Ainda segundo estes estudiosos, todos os Cotrims da região seriam descendentes do filho dele: Lopo Martim Canas Cotrim, já que ele era filho único.


Existe uma outra família Cotrim no Brasil, iniciada por José Custódio Cotrim da Silva, no Rio de Janeiro, estes conseguiram traçar a genealogia até o Jayme, infelizmente no meu ramo ainda não chegamos lá.

Um lisboense boêmio do começo do século XVIII

Na busca por encontrar minhas raízes me deparei com um personagem que tem estado muito em meu pensamento, é o Lisboense Antônio Xavier Carvalho de Cotrim. Entrou para a história da família Cotrim no Brasil, sendo o patriarca do ramo Baiano (existe uma outra no Rio), aparece em diversos textos, livros e blogs escritos pelos muitos descendentes, deu origem a família tradicional do sertão baiano e posteriormente paulista. Leolino Xavier Cotrim, meu tataravô, que já descrevi aqui, é um (e o mais conhecido) dos bisnetos dele.

Mas o que tem me feito pensar tanto na vida dele é aquilo que encontro como semelhanças comigo, já que, apesar das origens rurais nasci em uma grande cidade, quando olho meus ancestrais é o primeiro que descubro nascido em uma cidade grande (guardando é claro os padrões e tamanho de cidade grande em épocas bem diferentes).

Antônio nasceu na Freguesia de Encarnação, às margens do Rio Tejo em Lisboa, no dia 28 de Setembro de 1707. Lisboa da época era uma cidade muito conservadora e autoritária, dominada pelas rígidas ordens católicas e assombrada pelos tribunais da inquisição. De acordo com alguns historiadores e principalmente baseado em uma carta que seu irmão, Benedito Manoel Egas José de Carvalho Cotrim, enviou para ele de Portugal em 1752, parece que Antonio teve problemas neste cenário repressivo e acabou sendo expulso de Portugal, pela política de degredo, onde as pessoas eram condenadas a abandonar a metrópole e ir para uma das colônias, no caso dele o Brasil.

Não consegui entender exatamente o que aconteceu e qual o peso exato da situação, também não sei se o degredo ocorreu de fato, se houve um julgamento, ou se é usado no sentido figurado, sendo que ele teria sido obrigado a deixar o país natal por não haver mais clima para ficar lá.

Na carta o irmão conta que esteve nas freguesias (paróquias) procurando os registros de que ele tenha “se desobrigado”, o sentido de desobrigar-se naquele contexto era a confissão, pelo que entendi todos deviam se confessar pelo menos uma vez por ano e esta confissão ficava registrada na igreja (o fiel provavelmente recebia algum documento também). Parece que o ato de não se confessar já era problema com a igreja. Pelos relatos de Benedito o irmão não havia se desobrigado em 1734, quando tinha 27 anos, um ano antes de deixar Portugal, e na carta fica clara a reprovação ao comportamento de Antônio na época:

porém as tuas asneiras no tempo de rapaz agora é que se sentem porque certamente lá te (ilegível) por dúvida em não constar da dita certidão onde te desobrigaste o ano de 34 (...) e nesta terra não consta que tu te desobrigastes o ano de 34 nem está nos livros dos acentos e se neste ano fizeste algumas confiçois (confissão) foi só da amante e não de católico”.

Erivaldo Fagundes Neves, historiador e também descendente de Antonio, descreve assim o meu Sétimo-Avô, em uma obra sua: “Antônio Xavier de Carvalho Cotrim (e Angélica Maria de Jesus, depois Joana Fagundes da Silva), que em 1735 deixou a boemia lisbonense que lhe custou o degredo, para regenerar-se nos sertões da Bahia, fincando raízes em Brejo dos Padres, cabeceiras do rio das Rãs;”
Não me parece que tenha praticado algum ato grave, pelo menos para o nosso pensamento de hoje, mas para o momento sua vida pelos bares do até hoje boemio bairro de Santos-o-velho podem ter sido motivo para a expulsão, a carta do irmão também fala em uma amante, o que seria grande escândalo para a época. Ainda tenho alguma dúvida mas parece que já era casado em Portugal com Angélica Maria de Jesus, que veio com ele para o Brasil.

Outra semelhança que tenho com ele é de ser da primeira geração na cidade grande, seus pais: Manuel Pires de Carvalho Cotrim e Andreza Josefa da Silva, eram da pequena vila de Ferreira do Zezere, no centro de Portugal, a cerca de 150 kms da capital. Mas mudariam depois para ter os filhos em Lisboa.
Antonio saiu de Portugal em 01 de Fevereiro de 1735 com 28 anos. Sua primeira esposa, Angélica Maria de Jesus, faleceu em 10 de Abril de 1751 e pela carta onde o irmão felicita pela nova esposa, em 1752 ele já estava casado de novo, desta vez com a minha sétima-avó, Joana Fagundes da Silva.


No Brasil o destino foi o sertão da Bahia, arrendou terras e chegou a criar 600 cabeças de gado, na fazendas Caetité e Brejo dos Padres, que eram propriedade dos pioneiros na colonização do sertão baiano, os Guedes de Brito. Seriam depois definitivamente compradas pelos filhos de Antônio. Em 1771 sabe-se que morava em Rio de Contas, depois de ter passado por Caetité e Paratinga.

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Do Sertão Baiano para o Interior Paulista

Foi no final do século XIX que meus ancestrais chegaram ao interior de São Paulo, deixando o sertão baiano, onde ficaram por algumas gerações e mais de 100 anos após a chegada ao Brasil vindos de Portugal. O movimento destas famílias não foi isolado, acompanhou um movimento migratório significativo e foi motivado por condições climáticas e econômicas, as mesmas que resultaram em tantos outros movimentos populacionais na história da humanidade.

Foram 3 os fatores que nos trouxeram ao interior de São Paulo: As constantes secas no sertão baiano, o declínio da mineração na região do Rio de Contas e o crescimento do Café na região Oeste do Estado de São Paulo.

As secas não eram novidade na Bahia, seu primeiro registro foi feito em 1533 pelo Padre Azpilcueta Navarro, em 1583 a seca acabou com a cana, a mandioca e a moagem nos engenhos e  até as populações indígenas se deslocavam fugindo delas. Em 1818 foi relatada em detalhes pelos cientistas europeus Spix e Martius que passaram  pela região. 

Mas a terrível seca que arrasou a região entre 1857 e 1861 superou as anteriores, provocando verdadeiro caos, interrompendo as plantações e criações, provocando fome, mortes, etc. O início de nova seca em 1877 acelerou ainda mais o movimento migratório que já tinha começado.

As secas tiveram graves consequências econômicas, prejudicaram a agricultura e a pecuária, que com a decadência da mineração eram a principal atividade dos fazendeiros da região. Neste cenário as notícias vindas do Sudeste, sobre o sucesso do cultivo do Café começaram a despertar o interesse do meu tataravô, Leonino Xavier Cotrim.

O Café que já havia feito fortunas no Vale do Paraíba, tinha migrado a partir da década de 1870 para o interior de São Paulo, com o atrativo da terra roxa, na região Oeste do estado. Foi nessa região, mais precisamente em São Carlos que Leolino comprou em 1877 a Fazenda Conceição.

A mudança aconteceu em 1878, junto com a esposa (minha tataravó Ludgeria Pereira Costa), seis filhos, um neto, mais alguns parentes e um grande número de escravos. Partiram da Fazenda Lagoa da Pedra em Caetité no dia 7 de fevereiro e chegaram em São Carlos em 10 de Abril, mais de 60 dias na estrada, ou melhor, nas trilhas que atravessavam matas e rios nos estados da Bahia, Minas Gerais e finalmente São Paulo. Logo depois a família se mudaria para Pitangueiras.

O genro de Leolino, Candido Spínola de Castro (meu trisavó) e a esposa dele Arlinda Spínola de Castro (minha trisavó) vieram logo depois em 1880, ficaram primeiro em  São Carlos, moraram depois em Barretos, Jaboticabal e Bebedouro, até estabelecerem-se em São José do Rio Preto. Ao contrário do sogro, o Coronel Spínola, como Cândido era chamado, não era agricultor, preferia a vida na cidade, mas dele falarei mais tarde.

O café também atraiu para o interior de São Paulo, Urbino de Oliveira Guimarães, o Major Urbino, meu trisavô que veio depois em 1899, quase no final do século, nesta época já haviam muitos parentes e amigos por lá, seu tio Manuel Cândido de Oliveira Guimarães, era fazendeiro em São Carlos e até seu filho, meu bizavô, Olindo de Oliveira Guimarães já tinha vindo com a sua avó Ana Amélia de Moura Albuquerque (minha trisavó) para Pitangueiras por volta de 1885.

Sobre a viagem do Major Urbino e sua família existe um relato bem detalhado, graças a Otília de Oliveira Guimarães, uma das filhas dele, que escreveu um diário da viagem e a Mario Mazzei Guimarães, que transcreveu este diário.

A viagem começou em 08 de Junho, na Lagoa do Timóteo e terminou dia 13 de Agosto  em Casa Branca, foram depois para a Fazenda Maracaju, de Antonio Moura e Albuquerque (onde provavelmente estava meu bizavô Olindo) em Santa Cruz das Palmeiras, passaram mais alguns dias na fazenda de Leolino Xavier Cotrim e foram então instalar-se na nova fazenda da família, a Santa Octacília (nome em homenagem a filha que morreu durante a viagem) no dia 23 de Março de 1900. A comitiva reunia cerca de 50 pessoas, entre familiares, guias, tropeiros, cozinheiras, etc.

A viagem não foi fácil, foram 66 dias de trilhas onde todos ficavam expostos à duras condições, como chuvas, calor, caminhos ruins e imprevistos. Abaixo transcrevo alguns trechos do diário de viagem de Otília:

”... fizemos uma viagem muito triste e contrariada ...”(entre Caculé e Rompe Terra); “...aqui chegamos ao pôr do sol, encontramos uma casa vazia e nela pousamos ...” (em Araça); “... aqui chegamos, mamãe muito cansada ...” (em Brejinho); “... arranchamos na beira do rio ...” (em Pé da Ladeira); “...passamos a noite de São João muito triste e num lugar deserto ...” (em Vacaria); “...pousamos em Juramento, caminho muito ruim ...”; “...esse dia perdemos, já tendo pousado no Cortume, voltamos para aqui ...”; ...este dia sofremos muito, caminhamos com a noite, com chuva e lama...” (Pimenta) “... chegamos ... já de noite e com chuva (Piumbi); “neste dia as meninas passaram mal ...” (São Sebastião dos Franciscos); “...hoje... foi Deus servido em levar ... minha querida irmãzinha Otacilia ... “(Ventania) Otacilia morreu com sete anos incompletos.”


Fontes:

Sobre as secas na Bahia: http://www.ppgh.ufba.br/IMG/pdf/As_Secas_da_Bahia_do_Sec_XIX_-_Graciela.pdf (Tese de mestrado de Graciela Rodrigues Gonçalves)

Série de artigos escritos por Mario Mazzei Guimarães em 1990


terça-feira, 3 de setembro de 2013

Coronel Leolino Xavier Cotrim

Leolino Xavier Cotrim nasceu em Caitité em 28 de Janeiro de 1834, descendente dos Cotrim e dos Brito Gondim, famílias importantes dos primórdios da colonização do Alto Sertão da Bahia, era filho de Manuel Xavier de Carvalho Cotrim e de Joaquina Calmon de Brito Gondim.
Na Bahia atuava como agricultor, pecuarista e mineirador, foi proprietário da fazenda Pedra da Lagoa e chegou a desviar o curso do Rio Brumado para apanhar diamantes no leito seco. Também levava Ametistas, pedras semi-preciosas, para Salvador, onde eram vendidas a mercadores alemães, ao preço de quatrocentos mil reis a arroba. Tinha o título de Coronel da Guarda Nacional.

Casou-se em 09 de Julho de 1855 com Ludgeria Pereira da Costa, nascida em Caitité em 26 de Março de 1837. Ludgeria era morena, baixa, com cabelos pretos lisos e olhos negros, provavelmente com parte de sangue índio. Era filha do Capitão Manoel Pereira da Costa e Emiliana Ribeiro da Costa, também proprietários de terras no sertão da Bahia, o pai de Manoel, Jerônimo Pereira da Costa foi rendeiro* do sitio São Pedro, no sertão do Rio Pardo na Bahia. Leolino e Ludgeria tiveram 13 filhos. Entre eles a minha trisavó, Diolinda Cotrim, mãe da minha bizavó Arlinda Spínola de Castro, mãe do meu avô materno, Wagner de Oliveira Guimarães.

Em 1877 Leolino resolveu mudar-se com a família para o interior de São Paulo. O início de uma nova seca, como a que arrasou a região entre 1857 e 1861, provocou pânico e grande despovoação do sertão nordestino neste ano. Além disso a mineração já havia enfraquecido e chegavam notícias sobre as oportunidades com o café no interior de São Paulo.

Já com a fazenda comprada em São Carlos, partiu de Caitité no dia 07 de Fevereiro de 1878, chegando em São Paulo em 10 de Abril do mesmo ano, para a Fazenda Conceição, nova residência da família a poucos quilômetros da cidade, em uma região chamada de Babilônia. Leolino veio para São Paulo já com boa fortuna da Bahia e pouco depois da chegada trocou de fazenda, indo para a região de Ribeirão Preto, próximo ao então povoado de Pitangueiras, onde comprou de Joaquim Moço** a Fazenda Santa Vitória, que depois foi ampliada por novas aquisições, chegando a ter 2.000 alqueires.

Na Santa Vitória Leolino e seus filhos chegaram a plantar um milhão de pés de café. A sede era relativamente luxuosa para a época, com 12 cômodos e grandes varandas, tinha água encanada, luz elétrica com o uso de um gerador movido por uma roda hidráulica e telefone ligando a fazenda à cidade de Pitangueiras, esses recursos eram avançados para a década de 1910 e mesmo muitas cidades não os possuíam. A fazenda ainda tinha muitos terreiros, sendo um ladrilhado para secar café lavado em tanque, uma máquina de beneficiar café, uma grande tulha ***, uma serraria (que tinha até serra inglesa), moinho para fubá de milho e olaria para produção de tijolos e telhas. Além do café havia criação de gado, com cerca de 300 cabeças.

Nesta época começam a chegar os primeiros colonos italianos, que foram construindo casas e formando colônias dentro da fazenda. Neste mesmo período foi construída a Estrada de Ferro São Paulo-Goiás, que atravessou as terras de Leolino, tendo dentro delas uma estação onde era feito o carregamento do café.

Em 1912, já com 78 anos ele fez uma viagem pela Europa, na companhia de uma das filhas, América, e do genro, João Pedro Antunes, visitou quase todos os países em 6 meses de viagem, conta-se que gostava de mostrar os postais do velho mundo aos amigos e visitantes na fazenda.

Leolino faleceu em 18 de Agosto de 1924, aos 90 anos na fazenda Santa Vitória, seu nome ficou gravado na história de Pitangueiras, sendo considerado um dos fundadores da cidade, alguns de seus filhos ocupariam cargos importantes, como Juiz, Vereador e até Prefeito Municipal****. Uma das principais ruas da cidade leva o nome de Leolino.


***

Leolino Xavier Cotrim


* A príncipio o Rendeiro era quem cultivava a terra e pagava uma taxa, geralmente “um quinto” (20%) ao proprietário. No entanto, como no século XVIII não havia posse definitiva da terra, já que elas pertenciam ao Rei e eram cedidas temporariamente para serem cultivadas, era impossível a venda formal de terras. Por isso muitas vezes o sistema de rendeiros era usado para este fim, ou seja, para mascarar o que de fato era a venda. Tanto é que após anos de uso muitos destes rendeiros reclamaram e ganharam a posse das terras que cultivavam.

** O fim de Joaquim Moço foi trágico, apesar dos 40 contos de réis pagos pela fazenda (um bom dinheiro para a época) o povo dizia que o negócio foi ruim, pois as terras valiam bem mais. Joaquim então resolveu desfazer o negócio e convidou Leolino para um jantar em sua casa. Leolino não apareceu e Joaquim que teria preparado a espingarda para intimidar o comprador, acabou se matando em seu quarto. Ninguém sabe se esta já era a intenção dele, se ele iria matar ou só intimidar Leolino ou iria matá-lo e depois se matar.

*** Tulha é um depósito para guardar cereais e alimentos, no caso o café.

**** João Batista Cotrim, filho de Leolino foi Juiz de Pitangueiras e Major da Guarda Nacional, ele casou com  Orminda Guimarães Cotrim, filha do Major Urbino (meu trizavô). Ela empresta até hoje o nome a uma escola pública da cidade.


Fontes:



Posseiros, Rendeiros e Proprietários – Erivaldo Fagundes Neves