Na busca
por encontrar minhas raízes me deparei com um personagem que tem estado muito
em meu pensamento, é o Lisboense Antônio Xavier Carvalho de Cotrim. Entrou para
a história da família Cotrim no Brasil, sendo o patriarca do ramo Baiano
(existe uma outra no Rio), aparece em diversos textos, livros e blogs escritos
pelos muitos descendentes, deu origem a família tradicional do sertão baiano e
posteriormente paulista. Leolino Xavier Cotrim, meu tataravô, que já descrevi
aqui, é um (e o mais conhecido) dos bisnetos dele.
Mas o que
tem me feito pensar tanto na vida dele é aquilo que encontro como semelhanças
comigo, já que, apesar das origens rurais nasci em uma grande cidade, quando
olho meus ancestrais é o primeiro que descubro nascido em uma cidade grande
(guardando é claro os padrões e tamanho de cidade grande em épocas bem
diferentes).
Antônio
nasceu na Freguesia de Encarnação, às margens do Rio Tejo em Lisboa, no dia 28
de Setembro de 1707. Lisboa da época era uma cidade muito conservadora e
autoritária, dominada pelas rígidas ordens católicas e assombrada pelos
tribunais da inquisição. De acordo com alguns historiadores e principalmente
baseado em uma carta que seu irmão, Benedito Manoel Egas José de Carvalho
Cotrim, enviou para ele de Portugal em 1752, parece que Antonio teve problemas
neste cenário repressivo e acabou sendo expulso de Portugal, pela política de
degredo, onde as pessoas eram condenadas a abandonar a metrópole e ir para uma
das colônias, no caso dele o Brasil.
Não
consegui entender exatamente o que aconteceu e qual o peso exato da situação,
também não sei se o degredo ocorreu de fato, se houve um julgamento, ou se é
usado no sentido figurado, sendo que ele teria sido obrigado a deixar o país
natal por não haver mais clima para ficar lá.
Na carta o
irmão conta que esteve nas freguesias (paróquias) procurando os registros de
que ele tenha “se desobrigado”, o sentido de desobrigar-se naquele contexto era
a confissão, pelo que entendi todos deviam se confessar pelo menos uma vez por
ano e esta confissão ficava registrada na igreja (o fiel provavelmente recebia algum
documento também). Parece que o ato de não se confessar já era problema com a
igreja. Pelos relatos de Benedito o irmão não havia se desobrigado em 1734,
quando tinha 27 anos, um ano antes de deixar Portugal, e na carta fica clara a
reprovação ao comportamento de Antônio na época:
“porém as tuas asneiras no tempo
de rapaz agora é que se sentem porque certamente lá te (ilegível) por dúvida em
não constar da dita certidão onde te desobrigaste o ano de 34 (...) e nesta
terra não consta que tu te desobrigastes o ano de 34 nem está nos livros dos
acentos e se neste ano fizeste algumas confiçois (confissão) foi só da amante e
não de católico”.
Erivaldo Fagundes
Neves, historiador e também descendente de Antonio, descreve assim o meu
Sétimo-Avô, em uma obra sua: “Antônio
Xavier de Carvalho Cotrim (e Angélica Maria de Jesus, depois Joana Fagundes da
Silva), que em 1735 deixou a boemia lisbonense que lhe custou o degredo, para
regenerar-se nos sertões da Bahia, fincando raízes em Brejo dos Padres,
cabeceiras do rio das Rãs;”
Não me parece que
tenha praticado algum ato grave, pelo menos para o nosso pensamento de hoje,
mas para o momento sua vida pelos bares do até hoje boemio bairro de
Santos-o-velho podem ter sido motivo para a expulsão, a carta do irmão também
fala em uma amante, o que seria grande escândalo para a época. Ainda tenho
alguma dúvida mas parece que já era casado em Portugal com Angélica Maria de
Jesus, que veio com ele para o Brasil.
Outra semelhança que
tenho com ele é de ser da primeira geração na cidade grande, seus pais: Manuel
Pires de Carvalho Cotrim e Andreza Josefa da Silva, eram da pequena vila de
Ferreira do Zezere, no centro de Portugal, a cerca de 150 kms da capital. Mas
mudariam depois para ter os filhos em Lisboa.
Antonio saiu de
Portugal em 01 de Fevereiro de 1735 com 28 anos. Sua primeira esposa, Angélica
Maria de Jesus, faleceu em 10 de Abril de 1751 e pela carta onde o irmão
felicita pela nova esposa, em 1752 ele já estava casado de novo, desta vez com
a minha sétima-avó, Joana Fagundes da Silva.
No Brasil o destino
foi o sertão da Bahia, arrendou terras e chegou a criar 600 cabeças de gado, na
fazendas Caetité e Brejo dos Padres, que eram propriedade dos pioneiros na
colonização do sertão baiano, os Guedes de Brito. Seriam depois definitivamente
compradas pelos filhos de Antônio. Em 1771 sabe-se que morava em Rio de Contas,
depois de ter passado por Caetité e Paratinga.
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