sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Os Spinola em Gênova

A família Spínola ocupou posição de destaque na história de Gênova e de boa parte da Europa Medieval. Participaram das cruzadas, foram governadores da República de Gênova, Duques, Viscondes, cardeais... Houve até 1 Papa e 4 Santos.

E existe ligação direta de descendência entre personagens centrais da família em Gênova com o patriarca da mesma na Graciosa, Pedro Spínola Dória. A começar pelo criador do sobrenome: Guido Spínola.

Guido, ou Guidone, participou da primeira cruzada, que invadiu Jerusalém em 15 de Julho de 1099. Ele trouxe da Terra Santa um espinho (que seria da Sagrada Coroa de Jesus Cristo). De volta a Gênova o espinho foi oferecido a Virgem da Igreja da Senhora das Vinhas em Gênova. Spínola é espinho em Italiano, surge ai o nome da família.

O feito deu muita fama a Guido, que já era Cavaleiro Templário, e seria eleito Consul de Gênova, entre 1101 e 1122. Era só o começo da presença Spínola nesta posição, entre os séculos XII a XIV foram 14 Cônsules que ocuparam a posição por 29 vezes.

Guito era bisneto de IDO, o Visconde de Manesseno. IDO foi um Alemão que veio invadir a Itália em 951 no exército de seu primo OTO I*. Após a conquista ficou na região fundando a família de Manesseno (Manesseno hoje é uma vila nos arredores de Gênova).  

O neto de Guido, Oberto Spínola, nascido em 1135, também foi personagem de destaque, quando Consul negociou a soberania de Gênova com o Imperador Frederick I e com o acordo assinado na cidade de Pavia em 9 de Junho de 1162, tornou-se o primeiro Cônsul Soberano de Gênova.

Esta é a linha genealógica desde IDO Manesseno até Pedro Spinola Dória:

IDO di Manesseno, pai de Oberto dé Visconti (di Manesseno), pai de Belo “Bozumi”,(este foi antepassado das famílias Spinola, Brusco e Embriaco) nascido em 1040, pai de Guido Spinola (I), nascido em 1070, pai de Guido Spinola (II), nascido em 1100, casado com Alda. Pai de Oberto Spinola (I), nascido em 1135 e morto em 1183, casado com Sibila della Volta (Filha de Igone della Volta). Pais de Oberto Spinola (II), nascido em 1165 e morto em 1214, irmão de Ingo Spinola, tronco dos Spinola “della Piazza” ou “di San Luca”. Pai de Guglielmo Spinola, nascido em 1200, pai de Oberto Spinola (III), o Grande Capitão de Genova (conjuntamente com Corrado Doria), nascido em 1200 e casado com Giacoba (também pai de Corrado Spinola, progenitor de outra linha Spinola da Madeira). Pai de Gherardo Spinola (Senhor de S. Luca e Tertore), nascido em 1280, casado com Pietra de Marini (filha de Antonio Marini). Pais de Lucchesio Spinola (de Marini), nascido em 1323 casado com Agnese. Pais de Carozio Spinola, nascido em 1350 e morto em 1405, que casou com a prima Teodora Spinola (filha de Giacomo Spinola, neta de Aleone Spinola). Pais de Eliano Spinola, nascido em 1390, banqueiro em Genova, casado com Argenta Lomellini (Catanho) (filha de Oberto Lomellini e Bettina Cattaneo (Catanho)). Pais de Giorgio Spinola (Lomellini), nascido em 1420 e morto em 1484. Pai de Leão Spinola (Elliani Spinola Doria), nascido em 1448, passou pela Espanha e pela Ilha da Madeira mas voltou a Genova, onde os filhos Antonio e Lucano nasceram (ambos tiveram CBA de Spinola em Portugal em 1513 – D. Manuel). Leão também era chamado de Micer Leão ou Marcelão Spinola. Casado com Peretta de Spinola (ou Madona Pereta). Estes são os pais de Antonio Spinola Doria, nascido em 1470 em Genova e morto em 1555 na Madeira. O Filho deles Pedro Spinola Dória, nasceu na Madeira em 1503 e morreu na Graciosa em 1559.


* Oto I (Primo de IDO Viscondi de Manessemo) É considerado o primeiro Sacro Imperador Romano, coroado pelo Papa João XII em 962. Ele nasceu em 912 em Wallhausen na Alemanha. Filho do Rei Henrique I “O Passarinheiro” foi coroado rei dos alemães em 936. Em 951 invadiu o Norte da Itália. 

Os Spínola da Graciosa

Volto aqui a falar dos Spínola, aqueles três dizimeiros da coroa portuguesa que chegaram a região de Rio de Contas em meados do século XVIII, dos quais descendem tanto meu bizavô, Olindo de Oliveira Guimarães, quanto minha bizavó, Arlinda de Souza Spínola. Apesar de terem dado origem a uma longa linhagem Spínola no Brasil, partindo depois da Bahia, para o interior de São Paulo, Paraná e outros estados, não sabemos quem é o pai deles.

O que se sabe é que são da Ilha Graciosa, nos Açoures. Estudando a história dos Spínolas desta ilha chegamos ao nome de Pedro Spínola Dória, considerado patriarca desta família por lá.

Para entender a história dele e da migração vamos voltar ao avô dele, Leão Spínola (Elliani Spinola Dória), nascido em 1448 em Gênova, descendente de família nobre e mercador, tem registradas passagens pela Espanha e pela Ilha da Madeira. Um dos filhos dele Antonio Spínola Dória (ou do Funchal), nascido em 1470 em Gênova voltaria ainda bem jovem a Madeira, para comercializar trigo na região.

Nesta época o Rei Português começava a ver com bons olhos a presença de estrangeiros na região da Madeira e dos Açoures, já que eles estimulavam o comércio. Em 1490 Antonio é naturalizado Português e se dedica ao comércio de açucar, em 1494 passa a ter negócios nos Açores também. Em 1491 teria arrendado junto com Estevão Eanes toda a produção das ilhas de São Miguel, Santa Maria, Faial, São Jorge e Graciosa por 1 milhão e trezendos reais. Foi representante de vários produtores chegando a negociar 8 mil arrogas de açucar em um único negócio. Era casado com Maria da Porta.

Em 1513 recebeu autorização de Dom Manuel para usar o brazão da família em solo português. Entre 1516 e 1518 chegou a arrendar todos os direitos reais da Madeira, em sociedade com Luís Doria, Benito Morelli e Simão Acciaiuoli. Era representado nesta empreitada pelo primo Leonardo Spinola. Teria também cedido o terreno para a construção da Capela de São Tiago, em 30 de Abril de 1524, sob a condição de que ela sepultaria os mortos da família.

Antonio ainda teria colaborado com acordos comerciais que levaram os mercadores da região da Madeira a patrocinar a expedição ultra marina de outro genovês: Cristóvão Colombo.

Foi casado com Maria da Porta, também de Gênova, e faleceu na Madeira em 1555.

Pedro Spínola Dória, filho de Antônio Spínola e Maria da Porta, veio da Madeira para Graciosa já casado com Catarina da Veiga, filha de Diogo Pires da Veiga e de Inez Pires da Veiga.  Pedro nasceu na Madeira em 1503. Foi fidalgo da casa real  de D. Manoel I em 1515 e Capitão Mor da Graciosa. É considerado o patriarca da família Spínola na Graciosa. Pedro faleceu na Graciosa em 1559

Não consegui criar a linha de descendência dele até meus 3 ancestrais que chegaram ao Brasil em meados dos 1700, mas existem algumas pistas. Pedro teve duas filhas: Paula Spínola da Veiga e Catarina da Veiga Spínola. Apenas os  descendentes de Paula mantiveram o sobrenome Spínola. Um deles é Raphael Spínola de Souza Mendonça, nascido em 1650 e falecido em 08 de Novembro de 1729. Outro Souza Spínola é Manuel de Souza Spínola nascido em 1681 e falecido em 9 de Janeiro de 1742. Pelos anos de nascimento os 2 Spínolas dos quais descendo poderiam ser netos de um deles. Quem sabe um dia conseguiremos fazer esta ligação exata ...

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

O Coronel Spinola

Candido Spinola de Castro (meu Trisavô) nasceu em Palmas de Monte Alto, Bahia no dia 06 de Junho de 1856. Casou-se ainda em Monte Alto com Diolinda Cotrim, filha do Coronel Leolino Xavier Cotrim.  Eles vieram para o interior de São Paulo por volta de 1880, para a cidade de São Carlos do Pinhal (atual São Carlos).

Candido era filho do também Coronel da Guarda Nacional José Pereira de Castro, sendo que este pode ter os mesmos ancestrais de outros Pereira de Castro da região, todos com origens na cidade de Monção em Portugal.

Uma família com longo mapeamento ancestral, tendo como primeiros representantes Reis Visigodos que habitavam a região situada entre os Montes Cárpatos e o vale do Danúbio no ano de 418. Região onde hoje fica a Hungria. Estes visigodos migraram para oeste durante séculos, tendo no caminho invadido Roma e Atenas e contribuído para a queda do Império Romano. Fundaram o reino Visigodo com sede em Toullose e abrangendo quase todo o território das atuais França, Espanha e Portugal. Por volta de 711 mudaram-se para Castela, onde resistiram ao domíno árabe na Península Ibérica, no castelo de CastroJediz, onde surgiu o sobrenome Castro. Por volta de 1350 migraram para o outro lado da fronteira em Monção, Portugal.

A mãe de Candido era Spinola, Adelina de Souza Spinola, filha de Joseph Antônio de Souza Spinola, um daqueles 3 irmãos dizimeiros do Rei que chegaram a região em meados do Século XVIII, vindos dos Açoures e com ascendência italiana, de Gênova.

Voltando ao Coronel Spinola, foi homem urbano, político de destaque pelas cidades onde passou. Em São Carlos foi Curador Geral de Orfãos e também integrante do Partido Republicano. Entre 1892 e 1895 passou por Barretos, Jaboticabal e Bebedouro. Por volta de 1905 vai para Rio Preto, onde assume o 1º Cartório de Registro Geral e Hipotecas do município. Função que exerceria pelo resto da vida, teve ainda os títulos de Escrivão do Tribunal do Juri, Conselheiro do Hospital de Caridade (atual Santa Casa) e Coronel-Comandante da Brigada da Guarda Nacional em São José do Rio Preto.

Entre seus filhos estava Arlinda Spinola e Castro, minha bizavó.


Faleceu em Rio Preto em 30 de Agosto de 1931 e desde 1932 empresta o nome a uma das principais ruas da cidade. 

Coronel Spínola

Francisco de Brito Gondim

Francisco de Brito Gondin é o nome do meu Sétimo-Avô e do filho dele, meu Sexto-Avô. Este pai de Joaquina Calmon de Brito Gondim, casada com Manuel Xavier de Carvalho Cotrim, e mãe de Leolino Xavier Cotrim, por sua vez pai de Diolinda Cotrim, esta mãe de Arlinda Spinola e Castro, minha bisavó.

Apesar dos Franciscos de Brito Gondim serem figuras importantes na fundação de algumas cidades do Sertão Baiano, como Caetité e Igaporã. Não existem pistas entre os historiadores da região sobre os ancestrais deles. O que sabemos é que Francisco (o pai) nasceu em Rio Pardo de Minas (hoje em Minas Gerais).

No início do século XVIII ele transferiu-se para a região da nascente do Rio São João, sendo o proprietário da fazenda Alegre, que depois daria origem à cidade de Caetité. A instituição da Vila data de 1754.

Foi casado com Custódia Maria do Sacramento e tiveram 5 filhos: Francisco de Brito Gondim, Antonio de Brito Gondim, Alferes José de Brito Gondim, Manuel de Brito Gondim e Maria de Brito Gondim.

Ele morreu em Caetité, em 1773.

No seu espólio, a fazenda Alegre é descrita assim:  “casa coberta de telhas, roda de ralar mandioca, prensas e senzalas, também cobertas de telhas, por 113 mil réis; dois cavalos, 24 mil réis; 32 éguas e poldras, 156 mil réis; 70 rezes, 182 mil réis.”

O solar da Fazenda Alegre, onde morou Francisco de Brito Gondim, ainda existe em Caetité, na Praça Rodrigues Lima.

Seu filho, o também Francisco de Brito Gondim foi um dos Juízes Ordinários que participou da criação da vila de Caetité, em 1810 e proprietário da Fazenda Umbuzeiro, citada na Planta Corográfica da estrada de Monte Alto ao Porto de Cachoeira. A Fazenda Umbuzeiro (ou uma parte dela) é descrita assim no espólio de uma das filhas dele: “uma casa de adobes, e telhas, móveis e utensílios, por um conto 850 mil réis.”

Ele foi casado com Ana Angélica de Jesus (filha de José Carneiro Leão e Feliciana Gonçalves da Rocha), com quem teve 15 filhos.


Não descobri a ascendência deles mas sobre o nome Gondim, sei que tem origem na Freguesia de Gondim no conselho de Maia em Portugal.

Solar da Fazenda Alegre, hoje na Praça Rodrigues Lima em Caetité

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

James Catterall – Um inglês em Portugal

Jayme Cotrim, ou primeiro James Catterall, foi um inglês que veio para Portugal em 1381, como general no exército do Duque de Lancaster. Eles vieram em auxílio ao Rei D. Fernando, que lutava contra D. Henrique de Castela que havia tomado o trono do rei legítimo, D. Pedro, após a sua morte.

A guerra acabou nem acontecendo já que eles fizeram paz antes da luta, percebendo que não teriam força para vencer. Logo após este episódio, em 1383 Dom Fernando morreu e o Mestre de Avis (João) foi proclamado novo rei de Portugal. Aqui a Europa vivia a Guerra dos Cem anos, conflito entre França e a Inglaterra. A sucessora natural ao trono seria a Princesa D. Beatriz, que era casada com o Rei João I de Castela, aliado dos franceses, sua posse significaria a submissão de Portugal à este reino. Por isso grande parte da nobresa portuguesa, com o apoio dos ingleses foram contra a sucessão iniciando uma guerra civil, que no final levaria D. João I, o Mestre de Avis ao trono.

Em 1387 D. João I casa-se com D. Felipa de Lancaster (ou Lencastre), filha do Duque de Lancaster, família que havia ajudado a apoiar o rei na guerra civil. Junto com a nova rainha veio para Portugal novamente James Catterall, como seu Mordomo-mór, administrando a casa real.

Em 1415 faleceu a rainha e James, já com o nome português de Jayme Cotrim, passa a acompanhar o filho dela, o Infante Dom Henrique, que depois ficaria conhecido como “O Navegador*”.

Em 25 de Maio de 1420 D. Henrique foi nomeado Grão-Mestre da Ordem de Cristo, mudou-se para o Castelo da Ordem de Cristo em Tomar, que anteriormente pertencia aos Cavaleiros Templários. Jayme foi com ele para Tomar e foi o Monteiro-mór da casa do Infante na Vila de Dornes. O Monteiro-mór organizava as caçadas reais e cuidava das terras deste. Durante este tempo sua residência era a Quinta Souto do Eyreira, em Dornes.

Jayme era nascido em Londres, foi casado com (também inglesa) Ana Canas de Urofol. Seu pai foi John Catterall, que ocupou a mansão de Heton em Lonsdale e foi escudeiro da corte de Edward III em 1368.
Ana Canas de Urofol era filha de Lady Joan de Montacute e Willian de Ufford, Conde de Suffolk que ajudou o jovem rei da Inglaterra Richard II e seu filho John de Gaunt, o Duque de Lancaster, durante a revolta dos camponeses em 1381 quando a residência do duque quase foi destruída. Os país de Willian eram Robert de Ufford, 1º Conde de Suffolk, (filho de Robert d’Ufford e Cecily de Valoines) e Margaret de Norwich (esta filha de Sir Walter Norwich e Catherine de Hedersete). Em Portugal Dona Ana Canas era Dama da casa de D. Fellipa.

As armas de Jaime e seus descendentes estão registradas na Torre do Tombo (Arquivo Nacional), na página 34 do livro de Armas. Elas são compostas por um escudo azul e dourado, uma armadura acima com três penachos em azul sobre o capacete.

Segundo os genealogistas os Cotrims da região de Dornes descendem do único filho do casal Lopo Martim Canas Cotrim.

Lopo casou-se com Isabel de Souza, filha de Dona Teresa de Alvim e Dom Gonçalo de Souza. Este foi do Conselho dos Reis D. João e D Duarte e também Vedor (administrador) da casa do Infante Henrique e seu Alféres-mór, Alcaide-mór de Tomar, Comendador-mór da Ordem de Cristo e Comendador de Dornes. Foi ele quem mandou construir a Igreja da Nossa Senhora do Pranto na Vila de Dornes.

Lopo e Isabel tiveram dois filhos: Germão Canas Cotrim e D. Catarina Cotrim (a partir daqui a Genealogia não está completa, portanto não sei de qual dos dois filhos eu sou descendente, ou mesmo se tiveram mais algum filho.)

Lopo foi Senhor da Quinta do Souto do Ereira (em Dornes), Monteiro-mór de Dornes e Fidalgo de Cota de Armas (carta de 9.11.1504).
A residência em que moraram os primeiros Cotrims, a Quinta do Souto do Ereira ainda existe em Ferreira do Zezére, na freguesia de Paio Mendes. Fica para uma futura viagem a Europa fazer uma visita à esta região.


Armas de Jaime Cotrim e seus descendentes

* D. Henrique foi pioneiro nas navegações portuguesas que levariam ao descobrimento da América. Conquistou o arquipélago da Madeira, que depois foi doado a ele pelo irmão, o rei D. Duarte I. Foram seus navegadores que descobriram as então desabitadas ilhas dos Açores. Organizou várias viagens pela costa da África e encomendou um dos primeiros Mapas-Mundi. Alguns dos seus antigos navegadores estavam nas caravelas que chegaram à América com Cristovão Colombo.

Fontes:


quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Manuel Pires de Carvalho e a origem da família Cotrim

Manuel Pires de Carvalho Cotrim é pai do Capitão Antonio Xavier de Carvalho Cotrim, considerado o fundador da família Cotrim na Bahia (do Antônio Xavier já falei em outro texto).

Provavelmente é o Manuel que encontrei registro de ter nascido 1682, filho de um outro Manuel Cotrim, este casado com Maria Ferreira. Seria neto de Baltazar Cotrim e Laurenciana Ramos da Vila Chã, freguesia do Conselho de Pombal em Portugal, hoje com o nome de Vila Cã.

O que tenho mais certeza é que nasceu em Ferreira do Zezére, teve pelo menos quatro filhos, sendo que um deles nasceu em 1707 em Lisboa. Foi familiar do Santo Ofício (embora não tenha encontrado o seu processo de nomeação) e foi casado com Andresa Joseja da Silva, sendo que o site da família Cotrim a coloca como “Ama de leite da Infanta D. Teresa de Portugal”, (deve ser a Teresa de Bragança, filha de Pedro II de Portugal, irmã de D. João V, avô da Rainha Maria I, a louca. Teresa nasceu em 1696 e morreu em 1704 com apenas 8 anos), por aqui podemos supor que o primeiro filho de Andresa e Manuel nasceu também por volta de 1700 e que nesta época já estavam em Lisboa.

Sei que tiveram estes filhos: Benedito Manoel Egas Jose de Carvalho Cotrim, Francisco Xavier de Carvalho Cotrim (Alferes de Cavalos) Antonio Xavier de Carvalho Cotrim (meu Sétimo-Avô e Teodora Antônia Caetana da Silva Cotrim (esta também natural de Lisboa). Segundo outra fonte seu pai teria sido um cirurgião. Também descobri que João Baptista de Carvalho  (pai de Manuel Caetano de Carvalho ) seria seu irmão. (Informações baseadas no processo de nomeação de familiares do Santo Ofício de dois dos filhos dele).

Sobre os pais estou estou me baseando no relato abaixo, aqui não dá para ter certeza que é ele mesmo, mas é bem próvável pelo ano e local:

“Relativamente aos Cotrins de Vila Chã, possuo a seguinte informação: No século XVII viveram na freguesia do Beco dois irmãos. Miguel e Manuel Cotrim, naturais de Vila Chã, Pombal e filhos de Baltasar Cotrim e Laurenciana de Barros. Ainda de acordo com os registos paroquiais do Beco, Miguel Cotrim casou com Iria Nunes a 9.6.1664, sem geração conhecida enquanto que Manuel Cotrim "o mestre" de alcunha, casou a (?) com Maria Ferreira de quem teve; Brizida (1678), Manuel (1682) e Mariana (1683)*. anos em que foram baptizados na paróquia do Beco.”

Segundo a história dos Cotrims, todos os desta região de Portugal seriam descendentes do inglês James Cottrell, que depois adotou o nome de Jayme Cotrim. Estudando a genealogia ao contrário (ou seja pela descendencia deste Jayme) existem muitas linhas quebradas, pessoas sem registro dos filhos, ou mesmo com apenas um filho, o que não era normal para a época. De acordo com vários estudiosos da família e até os que estudam a família inglesa (Catterall), a chance de que Manuel seja descendente de Jayme Cotrim é muito grande. Ainda segundo estes estudiosos, todos os Cotrims da região seriam descendentes do filho dele: Lopo Martim Canas Cotrim, já que ele era filho único.


Existe uma outra família Cotrim no Brasil, iniciada por José Custódio Cotrim da Silva, no Rio de Janeiro, estes conseguiram traçar a genealogia até o Jayme, infelizmente no meu ramo ainda não chegamos lá.

Um lisboense boêmio do começo do século XVIII

Na busca por encontrar minhas raízes me deparei com um personagem que tem estado muito em meu pensamento, é o Lisboense Antônio Xavier Carvalho de Cotrim. Entrou para a história da família Cotrim no Brasil, sendo o patriarca do ramo Baiano (existe uma outra no Rio), aparece em diversos textos, livros e blogs escritos pelos muitos descendentes, deu origem a família tradicional do sertão baiano e posteriormente paulista. Leolino Xavier Cotrim, meu tataravô, que já descrevi aqui, é um (e o mais conhecido) dos bisnetos dele.

Mas o que tem me feito pensar tanto na vida dele é aquilo que encontro como semelhanças comigo, já que, apesar das origens rurais nasci em uma grande cidade, quando olho meus ancestrais é o primeiro que descubro nascido em uma cidade grande (guardando é claro os padrões e tamanho de cidade grande em épocas bem diferentes).

Antônio nasceu na Freguesia de Encarnação, às margens do Rio Tejo em Lisboa, no dia 28 de Setembro de 1707. Lisboa da época era uma cidade muito conservadora e autoritária, dominada pelas rígidas ordens católicas e assombrada pelos tribunais da inquisição. De acordo com alguns historiadores e principalmente baseado em uma carta que seu irmão, Benedito Manoel Egas José de Carvalho Cotrim, enviou para ele de Portugal em 1752, parece que Antonio teve problemas neste cenário repressivo e acabou sendo expulso de Portugal, pela política de degredo, onde as pessoas eram condenadas a abandonar a metrópole e ir para uma das colônias, no caso dele o Brasil.

Não consegui entender exatamente o que aconteceu e qual o peso exato da situação, também não sei se o degredo ocorreu de fato, se houve um julgamento, ou se é usado no sentido figurado, sendo que ele teria sido obrigado a deixar o país natal por não haver mais clima para ficar lá.

Na carta o irmão conta que esteve nas freguesias (paróquias) procurando os registros de que ele tenha “se desobrigado”, o sentido de desobrigar-se naquele contexto era a confissão, pelo que entendi todos deviam se confessar pelo menos uma vez por ano e esta confissão ficava registrada na igreja (o fiel provavelmente recebia algum documento também). Parece que o ato de não se confessar já era problema com a igreja. Pelos relatos de Benedito o irmão não havia se desobrigado em 1734, quando tinha 27 anos, um ano antes de deixar Portugal, e na carta fica clara a reprovação ao comportamento de Antônio na época:

porém as tuas asneiras no tempo de rapaz agora é que se sentem porque certamente lá te (ilegível) por dúvida em não constar da dita certidão onde te desobrigaste o ano de 34 (...) e nesta terra não consta que tu te desobrigastes o ano de 34 nem está nos livros dos acentos e se neste ano fizeste algumas confiçois (confissão) foi só da amante e não de católico”.

Erivaldo Fagundes Neves, historiador e também descendente de Antonio, descreve assim o meu Sétimo-Avô, em uma obra sua: “Antônio Xavier de Carvalho Cotrim (e Angélica Maria de Jesus, depois Joana Fagundes da Silva), que em 1735 deixou a boemia lisbonense que lhe custou o degredo, para regenerar-se nos sertões da Bahia, fincando raízes em Brejo dos Padres, cabeceiras do rio das Rãs;”
Não me parece que tenha praticado algum ato grave, pelo menos para o nosso pensamento de hoje, mas para o momento sua vida pelos bares do até hoje boemio bairro de Santos-o-velho podem ter sido motivo para a expulsão, a carta do irmão também fala em uma amante, o que seria grande escândalo para a época. Ainda tenho alguma dúvida mas parece que já era casado em Portugal com Angélica Maria de Jesus, que veio com ele para o Brasil.

Outra semelhança que tenho com ele é de ser da primeira geração na cidade grande, seus pais: Manuel Pires de Carvalho Cotrim e Andreza Josefa da Silva, eram da pequena vila de Ferreira do Zezere, no centro de Portugal, a cerca de 150 kms da capital. Mas mudariam depois para ter os filhos em Lisboa.
Antonio saiu de Portugal em 01 de Fevereiro de 1735 com 28 anos. Sua primeira esposa, Angélica Maria de Jesus, faleceu em 10 de Abril de 1751 e pela carta onde o irmão felicita pela nova esposa, em 1752 ele já estava casado de novo, desta vez com a minha sétima-avó, Joana Fagundes da Silva.


No Brasil o destino foi o sertão da Bahia, arrendou terras e chegou a criar 600 cabeças de gado, na fazendas Caetité e Brejo dos Padres, que eram propriedade dos pioneiros na colonização do sertão baiano, os Guedes de Brito. Seriam depois definitivamente compradas pelos filhos de Antônio. Em 1771 sabe-se que morava em Rio de Contas, depois de ter passado por Caetité e Paratinga.