domingo, 18 de agosto de 2013

O Major Urbino

Urbino de Oliveira Guimarães nasceu no dia 28 de Maio de 1856 em Vila Velha, atual Livramento de Nossa Senhora (também conhecida como Livramento do Brumado), filho de Antonio Joaquim de Oliveira Guimarães e Francisca Rosa Viana Magalhães.

Seu pai era Coronel da Guarda Nacional, nascido em Rio de Contas, neto de Portugueses que vieram para a região atrás do Ouro e das Pedras Preciosas. Alguns de seus irmãos foram fazendeiros conhecidos e estiveram entre os pioneiros da região de São Carlos no interior de São Paulo*. Totonho como era conhecido, desceu a Serra das Almas e estabeleceu-se na Fazenda Recreio**, perto de Vila Velha, quase no pé da Cachoeira do Brumado. Sua esposa, Francisca Rosa Viana Magalhães era de Paramirim.

O Major Urbino (Major também da Guarda Nacional) viveu até os 43 anos na Bahia, fez o caminho contrário do pai, voltando à Rio de Contas, onde ganhou a casa do Barão de Vila Velha, Joaquim Augusto de Moura, irmão mais velho da  sogra de Urbino, conhecida na região como Casa do Barão***. Na Lagoa do Timóteo ele plantava e criava gado.

Casou-se em 25 de Janeiro de 1877 com Idalina Augusta de Moura Bittencourt, nascida provavelmente na mesma Vila Velha em 25 de Novembro de 1860, filha de Ana Amélia de Moura e Albuquerque, esta descendente dos primeiros Spínolas e dos Moura e Albuquerque (de quem já falei aqui) . O pai de Idalina era Francisco de Vasconcelos Bittencourt, filho de açourianos com sangue francês, (ou seria holandês ?), dele vou falar mais tarde.

Ainda nos tempos da Lagoa do Timóteo, encontrei esta história nos relatos do Jornalista Mario Mazzei Guimarães****:

“Vindo a cavalo para Vila Velha, em visita ao pai, Urbino topou certo fazendeiro preparando surra num preto, como fazia nos tempos da escravidão, o viandante desceu da montaria, soltou o negro que iria apanhar e seguiu caminho. Na volta à Lagoa, encontrou sua casa rodeada de verdadeira multidão: eram os vizinhos que lhe vinham dar garantia, pois corria que o agressor, julgando-se desfeitado, queria fazer ao major, com a ajuda dos capangas, o que Urbino impedira que ele fizesse ao negro. Naturalmente a anunciada agressão não se consumou ...”

Em 1899 chega a hora de migrar para o interior de São Paulo, seguindo a trilha de outros parentes e amigos, como a sogra e até o filho Olindo de Oliveira Guimarães, meu bizavô, que já havia feito este caminho. Ele organiza uma grande comitiva num total de 50 pessoas e 99 burros levando toda a mudança da família, a viagem durou 66 dias e dela vou escrever em detalhes em um próximo post.

Chegaram em Casa Branca, no interior de São Paulo em 13 de Agosto de 1899. Passaram por Santa Cruz das Palmeiras, na fazenda do primo de Idalina, Antonio Moura, depois pelas terras de outros parentes, a última delas de Leolino Cotrim*****, meu tataravô, em Pitangueiras.

Foi em Pitangueiras o destino final, a Fazenda Santa Rosa, nova residência da família, que logo teve seu nome mudado para Santa Octacília, em memória de uma das filhas de Urbino que morreu durante a jornada. A fazenda de 100 alqueires foi comprada com o dinheiro dos burros usados na viagem e com uma ajuda da sogra. Na fazenda plantava-se café.

Idalina faleceu em 03 de Abril de 1901, sete dias após dar a luz ao filho caçula, aos 41 anos. Urbino casou-se novamente 5 anos depois, quando tinha 50 anos, teve ainda com a nova esposa, Sofia Miller, 3 filhas. Ela era sobrinha de Benedito Calixto, o pintor pré-impressionista.

Urbino teve muito sucesso com o café, e ainda foi favorecido pela sorte, em 1918 uma forte geada acabou com grande parte da produção paulista, mas a Santa Octacília foi poupada e a produto foi vendida com preço muito valorizado, neste ano ele construiu a nova casa grande da fazenda e comprou mais terras, chegando aos 150 alqueires.

Influenciado pela nova esposa resolveu morar na cidade, mudando-se para Bebedouro onde doou um dos vitrôs para a Igreja Matriz. Tinha uma boa vida na cidade, possuindo até um Oldsmobile com motorista fardado. Também fez algumas viagens com a nova esposa, conhecendo Santos, Itanhaém, Rio de Janeiro e Salvador.

O Major Urbino faleceu em São Paulo, onde tinha se internado, no dia 17 de Janeiro de 1929, além da Santa Octacília****** deixou para os filhos várias casas em Bebedouro, saldos expressivos em bancos e comissários em Santos e terras no “Sertão de Rio Preto”, onde hoje é Jales. Talvez tenha sido andando por estas terras que meu avô Tutu (neto de Urbino), conheceu minha avó Sebastiana, filha de fazendeiros de Jales.



***
Oldsmobile 1920 - Devia ser mais ou menos assim o carro do Major

* Alguns dos seus irmãos: Avelino de Oliveira Guimarães, dono da Fazenda das Campinas, em Palmas de Monte Alto, ele hospedou e protegeu o geógrafo e historiador Theodoro Sampaio, por volta de 1879, quando este percorreu a área fazendo pesquisas, nesta época o perigo da região era o bando do cangaceiro Neco; Francisco Cândido de Oliveira Guimarães, morador em Arraial, em 1882; Francisco de Oliveira Guimarães (sem o Cândido), morador em Rio de Contas; José Candido de Oliveira Guimarães, fazendeiro nos tempos iniciais de São Carlos e Manuel Cândido de Oliveira Guimarães, dono da Fazenda Babilônia, foi um grande comerciante de escravos na região de São Carlos por volta de 1880.

** Segundo Mario Mazzei a sede da fazenda Recreio, um sobrado, ainda estava lá em 1963, quando ele visitou a região, ficando próxima ao Engenho da Cachaça Sempre Viva (bom, já tenho um motivo para voltar à Livramento).

*** Sobre a Casa do Barão e os Spínolas, falei nos posts anteriores, coloquei até uma foto da casa.

**** Mario Mazzei era filho de Orestes Guimarães, um dos filhos do Major Urbino. Ele escreveu uma série de crônicas sobre o avô, que foram fundamentais para escrever este post. Mario Mazzei foi editor-chefe da Folha de São Paulo entre 1953 e 1959 e fez várias reportagens de destaque no jornalismo brasileiro. Ele faleceu em 12 de Dezembro de 2012, aos 98 anos.

***** Leolino Xavier Cotrim, rico fazendeiro da época do Café, foi o Avô de Arlinda Spínola de Castro (minha bizavó), casada com Olindo de Oliveira Guimarães, filho do Major Urbino. Houveram outros tantos casamentos entre os Guimarães e os Cotrim nesta época.

****** A fazendo Santa Octacília já nas mãos da família Marinho (ele casado com Cotrim Avelar), mudaria a plantação para as laranjas nos anos 30, após forte queda de preço do café. Ela foi rebatizada com o nome de Santa Rosa. Segundo Mario Mazzei, em 1990 ela ainda estava lá.

Fontes:

Uma série de crônicas escritas por Mario Mazzei em 1990 e distribuídas entre os parentes. Deixo aqui o muito obrigado e este jornalista e historiador que me ajudou a conhecer um pouco mais da minha história.



segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Os Moura e Albuquerque

Meus ancestrais Moura de Albuquerque são até agora uma das partes mais interessantes que descobri sobre as minhas origens, com alguns personagens bem relavantes na história brasileira, uma história de amor e tragédia contada por Jorge Amado, Afrânio Peixoto e outros autores e pelo grande número de informações que descobri sobre eles.

Tudo começa quando Martiniano José de Moura Magalhães casa-se com Maria Efigênia da Rocha e Albuquerque, em Rio de Contas, provavemente bem nos primeiros anos do século XIX. Eles são os Trizavós Maternos do meu bizavô materno: Olindo de Oliveira Guimarães.

Sobre Martiniano José não descobri as origens, apenas que tenha vindo das Minas Gerais. Maria Efigênia era filha de Portugueses, sendo seu pai, Dr. Bernardo de Mattos e Albuquerque formado em leis em Coimbra e Provedor do Rio de Contas, uma espécie de prefeito, com muitas posses na região, chegou a ser nomeado Capitão de Ordenanças da Bahia pelo reinado de D. Maria I*.

Martiniano ficou víuvo cedo, mas já era pai de pelo menos 4 filhos em 1817, vivendo em Nossa Senhora do Livramento das Minas do Rio de Contas (hoje Livramento do Brumado), quando resolveu vender a auforria a uma de suas escravas, fato que aparece em vários relatos sobre o triste período da escravidão no Brasil.

Um dos filhos de José Martiniano, Martiniano de Moura e Albuquerme, ficaria famoso e teria sua história, ou melhor sua morte retratada em vários romances. Este era o bizavô do meu bizavô materno, ele foi um dos personagens da guerra entre os Canguçu, os Moura e os Castro no sertão baiano.

A Guerra com os Canguçu e o assassinado de Martiniano

Essa história começa quando Pórcia e sua irmã mais velha Clélia, junto com uma comitiva, faziam uma viagem de Cajueiro (hoje município de Guanambi) até Curralinho na borda do recôncavo bahiano. Ali Clélia Brasília Castro se casaria com Antônio José Alves. Seriam os futuros pais do poeta Castro Alves.

Durante a viagem fizeram uma parada no Sobrado do Brejo, na localidade de Bom Jesus (hoje município de Caetité). Durante a estadia Pórcia, a tia mais nova de Castro Alves, teria se enamorado por Leolino Canguçu, um dos donos da casa, Leolino era casado.

Após a partida, Leolino e um grupo de capangas detém a comitiva e sequestra Pórcia, levando-a novamente para o sobrado, onde ela permace por 3 semanas. A família Castro não deixou barato,  e pediu ajuda aos Mouras para invadir o Sobrado dos Canguçu e libertar Pórcia.

É ai que meu Sexto-Avô entra na confusão. Já havia algum parentesco entre Mouras e Canguçus (embora eu não saiba qual) e a “traição” despertou a ira de Leolino. Em dezembro de 1845 o próprio Leolino arma uma tocaia e mata Martiniano, atentando também contra a vida do seu irmão Manuel, que escapa. O revide viria dois anos mais tarde e em 1847 Leolino é assassinado por um grupo armado a mando de Manuel, era o fim da guerra.

Talvez pelos contornos de romance e tragédia, talvez pela relação com o poeta Castro Alves, este episódio é retratado em vários romances, entre eles Sinhazinha (1929) de Afrânio Peixoto, História de Castro Alves (1947) de Pedro Calmon, ABC de Castro Alves, do escritor baiano Jorge Amado e Uma comunidade rural do Brasil antigo de Lycurgo Santos Filho.

Alguns Moura e Albuquerque que ficaram na história

Mas não foi apenas o assassinato de Martiniano que fez a fama da família, depois dele, alguns filhos e sobrinhos tiveram destaque na história do país, apesar de não serem meus ascendentes diretos, vou contar um pouco de três deles:

Joaquim Augusto de Moura, mais conhecido como o Barão de Vilha Velha, foi um dos filhos de Martiniano, irmão mais velho da minha quinta-avó, Ana Amélia de Moura Albuquerque. Joaquim tornou-se um grande proprietário de terras e gado, tendo morado em um dos casarões construídos pelos primeiros Spínolas (estes também meus ancestrais) na Lagoa do Timoteo. O título de Barão foi concedido por Dom Pedro II em 17 de Maio de 1873 em retribuição à uma generosa contribuição de 10 contos de réis que fez a “instrução pública” de Vila Velha, hoje Livramento de Nossa Senhora (Livramento do Brumado).

Outro nobre, foi José Egídio de Moura e Albuquerque, o Barão de Santo Antônio da Barra. Filho de Manuel (aquele irmão que vingou a morte de Martiniano), José Egídio foi Coronel da Guarda Nacional** e ganhou o título de Barão após ter prestado ajuda financeira as vítimas da “peste” em Rio de Contas em 1889, nomeado em Agosto, deve ter sido um dos últimos nobres do império de Dom Pedro II, que cairia em Novembro do mesmo ano. José Egídio ainda seria nomeado o 1º Intendente do município de Condeúba (nome atual de Santo Antônio da Barra), logo após a proclamação da república.

Outro filho de Manuel, Marcolino de Moura e Albuquerque, teve participação destacada na Guerra do Paraguai e no movimento pela abolição da escravidão no Brasil.

Em 1865 Marcolino resolveu parar temporariamento os estudos na Faculdade de Direito do Recife para lutar na Guerra do Paraguai, ele foi o Tenente-Coronel do Batalhão Imperatriz com 386 soldados ao seu comando. Ele é citado como tendo participação destacada na Batalha de Tuiuti, em 24 de Maio de 1866. Esta batalha foi decisiva na vitória dos Aliados na Guerra e é considerada a batalha mais sangrenta da história da América do Sul, com 10.000 mortes no total. Ele também aparece em outros momentos da guerra, em 1867 volta a Bahia para recrutar mais voluntários, inclusive alguns presos, em 68, em uma das batalhas finais da guerra pela tomada da ponte de Itororó, sua tropa ficaria famosa por utilizar a Capoeira para combater o inimigo, após a munição acabar.

Após a vitória no Paraguai Marcolino formou-se bacharel em direito e se elegeu Depultado Federal (tanto no império quanto na república), tendo participado da Constituição de 1891. No Congresso Federal defendeu a Abolição dos Escravos, tendo documentadas intervenções suas nos discursos de Joaquim Nabuco. Também participou da criação da Sociedade Brasileira contra a Escravidão e do Jornal Abolicionismo. Hoje existe o distrito de Marcolino Moura, no município de Rio de Contas, em sua homenagem.

Outro Moura que irei lembrar aqui é Antônio Martiniano, outro filho de Manuel, este se casou com a filha de sua prima, Maria Delfina (irmã da minha Trizavó Idalina Augusta de Moura Bittencourt)***. Antônio além de seguir a tradição do avô nas grandes plantações de café na região, teria sido traficante de escravos, trazendo-os da Bahia para São Paulo através de procurações dadas pelos seus proprietários para vendê-los aos novos produtores de café paulistas. Existe um registro de 1877 do governo da província Baiana a respeito de uma cobrança de imposto sobre 200 escravos que ele havia levado desta para São Paulo. Nesta mesma época ele teria se mudado de vez para Casa Branca-SP (rota realizado por outros de meus ancestrais também) e criado plantações de café na região. Onde estavam suas terras hoje existe o município de Santa Cruz das Palmeiras, local onde seus filhos e netos também exerceram importantes papéis políticos.


***


* O título está registrado no arquivo da Torre do Tombo em Lisboa, este é o link: http://digitarq.dgarq.gov.pt/details?id=1901333

** A Guarda Nacional foi uma força paramilitar criada em 1831 durante o período regencial (quando Dom Pedro II era muito novo para ser Rei de fato e Dom Pedro I já tinha voltado para Portugal) para substituir antigas milícias regionais. Vários dos meus ancestrais pertenceram a ela.

*** Meu Bizavô Olindo veio para o interior de São Paulo com Antônio Martiniano, junto com a prima e sogra dele (que era avó do meu Bizavô): Ana Amélia de Moura e Albuquerque.

Fontes:




Processo onde Bernardo de Mattos e Albuquerque foi advogado 1779:

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Três dizimeiros chegam ao sertão da Bahia ...

Em meados do Século XVIII chegaram ao alto sertão baiano 3 irmãos: Timóteo, Joseph e Francisco. Eram dizimeiros da fazenda real, percorriam o sertão recolhendo impostos para a coroa portuguesa.

Dois deles são meus ancestrais diretos. Timóteo é trizavô paterno do meu bizavô materno, ou seja meu sexto-avô. Joseph é bizavô paterno da minha bizavó materna, ou seja meu quinto-avô. A família dos dois iria se cruzar muitos anos e quilômetros depois, no início do século XX, já no interior de São Paulo, quando meus bizavós Olindo de Oliveira Guimarães e Arlinda Spinola e Castro (os pais do meu avô Tutu) se casaram.

Ainda não consegui descobrir o nome dos pais deles, mas sei que vieram da Graciosa, pequena ilha portuguesa no arquipélago dos Açores*, praticamente no meio do Oceano Atlântico. Sei também que Timóteo Spínola de Souza nasceu em 1744.

Os dízimos da fazendo real eram impostos de 10%, como os da igreja, que eram passados ao rei por este ser o “Grão-Mestre da Ordem de Cristo”. Os dizimeiros eram “comerciantes” e não funcionários do reino, eles compravam contratos que os habilitavam a cobrar os impostos. Para ter acesso a estes contratos, além é claro de dinheiro para dar o lance inicial, era preciso certo prestígio, portanto apesar de não sabermos a origem exata deles, parece fato que já chegaram ao Brasil com alguma relação com a Corte Portuguesa.

O fato é que os três irmãos ficaram por lá e, especialmente meus dois ancestrais, fizeram história no sertão baiano. Eles se fixaram primeiro em Vila Velha, hoje Livramento de Nossa Senhora (também conhecida como Livramento do Brumado). Com a descoberta de Ouro na Chapada Diamantina, subiram a Serra das Almas, estabelecendo-se em Rio de Contas. Conta-se que Timóteo ficou rico com o ouro, chegando a remeter 4 arrobas do metal para Londres.

A família construiu uma lagoa e se estabeleceu em volta, esta lagoa tem até hoje o nome de Lagoa do Timóteo e deu origem ao nome do distrito de São Timóteo. Ao redor da Lagoa eles construíram alguns casarões** que estão lá até hoje.

Joseph foi um pouco mais ao sul, próximo do atual de município de Caetité, era proprietário da fazenda Pedra Redonda, onde plantava café***, o mesmo café que acompanharia minha família pelas próximas gerações. 

Timóteo morreu em Rio de Contas em 25 de Abril de 1824, com 80 anos. Sua filha mais velha Maria Delfina de Souza já estava casada e deu continuidade a minha ascendência. Pelo lado de Joseph, os filhos, entre eles minha tataravó Adelina de Souza Spínola, teriam se mudado para Lençóis junto com os irmãos que continuavam com as plantações de café.

***

                                          Casa do Barão - Lagoa do Timóteo - BA


* Foi grande a emigração Açoriana para o Brasil, incentivos do reino e limitações econômicas da ilha, somadas a um grande crescimento demográfico no Século XVIII fizeram com que muitos tentassem vida melhor em terras brasileiras.

** Em um destes casarões nasceu meu bizavô, Olindo de Oliveira Guimarães. O lugar era conhecido como “Casa do Barão”, pois pertenceu ao Barão de Vila Velha, Joaquim Augusto de Moura, irmão da minha penta-avó Ana Amélia de Moura Albuquerque, mas isso fica pra outra história ...

*** Apesar de ter encontrado referência ao café como atividade dos Spínola na Bahia, este cultivo não era muito comum na época e lugar, sendo mais provável terem criado gado ou plantado algodão, fica a dúvida ...

Fontes:

Livro Online sobre Anísio Spínola Teixeira: http://www.bvanisioteixeira.ufba.br/livro10/chama_capitulo2.html

Taberna da História do Sertão Baiano:
http://tabernadahistoriavc.com.br/deocleciano-pires-teixeira/


Geneall e outros Fóruns da internet

Muito Obrigado a todos que pesquisam e compartilham a história !!

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Era uma vez um Guimarães ...

Tutu nasceu em Bebedouro em 24 de Janeiro de 1909,  ainda bem jovem, por volta dos 15 anos, mudou-se com os pais para São José do Rio Preto. De início moraram junto com os avós maternos dele, Candido Spínola de Castro e Diolinda Cotrim, até se mudarem para casa própria, em um sitio próximo a cidade.
Wagner de Oliveira Guimarães, o Tutu, era filho dos baianos Olindo de Oliveira Guimarães e Arlinda Spinola e Castro. Olindo era homem do campo e em Rio Preto criava gado, desde criança meu avô ajudava o pai, entregando leite pela cidade. 
Seu primeiro emprego fora de casa foi com a família Verdi*, como boiadeiro, levava gado pelos confins dos sertões de Mato Grosso e Goiás.
Numa destas viagens conheceu Sebastiana, que morava com os pais em uma fazendo no “sertão de Rio Preto”, próximo de onde hoje existe a cidade de Jales, seria sua futura esposa.
Sebastiana Borges Guimarães nasceu em Barretos em 20 de Outubro de 1915, filha de Virginio Borges de Lima e Felizarda Deolinda de Abreu, passou sua infância e juventude na fazenda do pai, próxima a Jales.
Tutu precisou parar temporariamente suas viagens como boiadeiro pelos sertões para cumprir a “obrigação com a pátria”, se alistar (e servir) o exército.  Já namorava minha avó quando mudou-se para um quartel em Jundiaí.
Estava lá em 1932, quando contrariados com a tomada do poder a força por Getulio Vargas, os paulistas resolveram tentar tirar o ditador na base das armas**, meu avô participou da revolução, mas não atuou por muito tempo. Quando montava uma peça de artilharia no Vale do Paraíba sua tropa foi surpreendida pelos soldados cariocas, ficou então preso durante todo o perído na Ilha Grande.
Passada a guerra e a prisão voltou para as boiadas. Em 1935 meus avós se casaram e ficaram morando com os pais dela. Em 1939 o pai de Tutu, Olindo, comprou a fazenda Santa Rita (pela região, não sei ao certo onde), meu avô e seu irmão Carlos, o Lolô, foram para lá trabalhar.
Tutu e Sebastiana devem ter se mudado para General Salgado*** em 42 ou 43.  Lá já estavam os pais da minha avó Sebastiana, Virginio Borges de Lima e Felizarda Deolinda de Abreu, que estão entre os casais que ajudaram a fundar a cidade, Virginio Borges de Lima hoje é nome de uma das ruas centrais da cidade.
Em Salgado compraram um sítio feito do desmembramento de parte da Fazenda Limoeiro, do Tonico Barão, fundador da cidade. Foi neste sítio, numa casa improvisada de “pau a pique” que nasceu minha mãe, a filha mais velha. A casa de pau era a moradia provisória deles enquanto a residência definitiva era construída. Minha mãe nasceu em 12 de Março de 1943.
Além da minha mãe tiveram mais quatro filhos, minha tia Felizarda (homenagem a avó materna), e meus tios Olindo (homenagem ao avô paterno), Virgínio (homenagem ao avô materno) e Wagner (nome do pai). A idéia de homenagear os avós no nome dos netos foi do Tutu e só veio no segundo filho, por isso minha mãe se chama Valda e não Arlinda.
Para facilitar o dia a dia das crianças na escola mudaram-se para mais perto da cidade, em terra que ganharam de Virginio em 1951. Ainda comprariam as terras que ficavam entre esta e a propriedade antiga, formando um único sítio. Meu avô criava gado, tirando renda da venda de bezerros e do leite, também chegou a ter uma pequena plantação de café. Repetindo o ofício de criança em Rio Preto, andava pela cidade entregando leite aos clientes.
Esta nova residência próxima a cidade era a que na minha infância nós chamávamos de  “casa velha”, pois por volta de 82 eles se mudaram para a “casa nova” na mesma propriedade, neste tempo o cenário já era bem urbano e meu avô já havia vendido boa parte da propriedade antiga, o restante foi dividido entre os filhos.
Mas no grande terreno onde moravam (uma chácara dentro da cidade) haviam vestígios das antigas atividades dele, entre eles um terreiro de café****, que depois virou o campo de futebol para os netos, onde me lembro do meu avô jogando de goleiro, aliás, ele gostava de contar histórias dos jogos nas fazendas e mostrava fotos do time do exército, meu avô era Palmeirense.
Tenho muitas lembranças deles, passava grandes férias por lá na infância e adolecência, eu, da primeira geração nascida em cidade grande, pude conhecer um pouco da vida na fazenda, moíamos café, carne, ajudávamos a vó a fazer linguiça, cuidar das galinhas, etc, etc ... essas histórias ficam para depois.
Sebastiana faleceu em São Paulo, quando visitava filhos e netos em 03 de Outubro de 1990, no mês que completaria 75 anos, após um infarte. Tutu morreu “de velho” em Novembro de 1999, aos 90 anos em General Salgado, ambos estão enterrados no Cemitério de General Salgado.

***
Eu e meu Vô Tutu - 1982

PS:  Fonte: sobre meus avós minhas lembranças e principalmente as da minha mãe. Outras referências encontrei na internet.

* Os Verdi eram família rica em Rio Preto, chegando a ser conhecidos como os Reis do Algodão. Nos anos 50, fundaram o Grupo Rodobens, primeiro consórcio para caminhões no país. Hoje o patrimônio do grupo é estimado em R$ 5,5 Bilhões. Mas a história da família também ficou marcada por acidentes aéreos, em 1960, Milton Terra Verdi e seu cunhado, tiveram que fazer um pouso forçado na Bolívia quando iam para Santa Cruz de La Sierra, os dois morreram na selva e Milton deixou um díario com seus últimos dias, que viraria livro (foram 70 dias na selva !!). Mais recentememte, em 2009 outro Verdi, Raimundo Verdi Macedo, este de Fernandópolis, faleceu quando o monomotor que viajava caiu em Santa Izabel. 
** A revolução não tirou Getúlio do poder,  Mineiros e Gaúchos “traíram o movimento”, deixando os paulistas sozinhos, e o ditador ficou lá até 45. Apesar disso a Revolução de 1932 virou símbolo de defesa a democracia e é o motivo do feriado paulista de 9 de Julho.   
*** General Salgado é um município paulista da região de São José do Rio Preto, terra onde eu passava longas férias na infância e adolescência, de lá tenho muitas histórias pra contar !!
**** A cultura de café é fato marcante na história da família, foi por isso que viemos para o interior de São Paulo no final do século retrasado, mas isso fica pra outro dia ...