Foi no
final do século XIX que meus ancestrais chegaram ao interior de São Paulo,
deixando o sertão baiano, onde ficaram por algumas gerações e mais de 100 anos
após a chegada ao Brasil vindos de Portugal. O movimento destas famílias não
foi isolado, acompanhou um movimento migratório significativo e foi motivado
por condições climáticas e econômicas, as mesmas que resultaram em tantos
outros movimentos populacionais na história da humanidade.
Foram 3 os
fatores que nos trouxeram ao interior de São Paulo: As constantes secas no
sertão baiano, o declínio da mineração na região do Rio de Contas e o crescimento
do Café na região Oeste do Estado de São Paulo.
As secas
não eram novidade na Bahia, seu primeiro registro foi feito em 1533 pelo Padre
Azpilcueta Navarro, em 1583 a seca acabou com a cana, a mandioca e a moagem nos
engenhos e até as populações indígenas
se deslocavam fugindo delas. Em 1818 foi relatada em detalhes pelos cientistas
europeus Spix e Martius que passaram pela
região.
Mas a terrível seca que arrasou a região entre 1857 e 1861 superou as
anteriores, provocando verdadeiro caos, interrompendo as plantações e criações,
provocando fome, mortes, etc. O início de nova seca em 1877 acelerou ainda mais
o movimento migratório que já tinha começado.
As secas
tiveram graves consequências econômicas, prejudicaram a agricultura e a pecuária,
que com a decadência da mineração eram a principal atividade dos fazendeiros da
região. Neste cenário as notícias vindas do Sudeste, sobre o sucesso do cultivo
do Café começaram a despertar o interesse do meu tataravô, Leonino Xavier
Cotrim.
O Café que
já havia feito fortunas no Vale do Paraíba, tinha migrado a partir da década de
1870 para o interior de São Paulo, com o atrativo da terra roxa, na região
Oeste do estado. Foi nessa região, mais precisamente em São Carlos que Leolino
comprou em 1877 a Fazenda Conceição.
A mudança
aconteceu em 1878, junto com a esposa (minha tataravó Ludgeria Pereira Costa),
seis filhos, um neto, mais alguns parentes e um grande número de escravos.
Partiram da Fazenda Lagoa da Pedra em Caetité no dia 7 de fevereiro e chegaram
em São Carlos em 10 de Abril, mais de 60 dias na estrada, ou melhor, nas
trilhas que atravessavam matas e rios nos estados da Bahia, Minas Gerais e
finalmente São Paulo. Logo depois a família se mudaria para Pitangueiras.
O genro de
Leolino, Candido Spínola de Castro (meu trisavó) e a esposa dele Arlinda
Spínola de Castro (minha trisavó) vieram logo depois em 1880, ficaram primeiro
em São Carlos, moraram depois em
Barretos, Jaboticabal e Bebedouro, até estabelecerem-se em São José do Rio
Preto. Ao contrário do sogro, o Coronel Spínola, como Cândido era chamado, não
era agricultor, preferia a vida na cidade, mas dele falarei mais tarde.
O café
também atraiu para o interior de São Paulo, Urbino de Oliveira Guimarães, o
Major Urbino, meu trisavô que veio depois em 1899, quase no final do século,
nesta época já haviam muitos parentes e amigos por lá, seu tio Manuel Cândido
de Oliveira Guimarães, era fazendeiro em São Carlos e até seu filho, meu
bizavô, Olindo de Oliveira Guimarães já tinha vindo com a sua avó Ana Amélia de
Moura Albuquerque (minha trisavó) para Pitangueiras por volta de 1885.
Sobre a
viagem do Major Urbino e sua família existe um relato bem detalhado, graças a
Otília de Oliveira Guimarães, uma das filhas dele, que escreveu um diário da
viagem e a Mario Mazzei Guimarães, que transcreveu este diário.
A viagem
começou em 08 de Junho, na Lagoa do Timóteo e terminou dia 13 de Agosto em Casa Branca, foram depois para a Fazenda
Maracaju, de Antonio Moura e Albuquerque (onde provavelmente estava meu bizavô
Olindo) em Santa Cruz das Palmeiras, passaram mais alguns dias na fazenda de
Leolino Xavier Cotrim e foram então instalar-se na nova fazenda da família, a
Santa Octacília (nome em homenagem a filha que morreu durante a viagem) no dia
23 de Março de 1900. A comitiva reunia cerca de 50 pessoas, entre familiares,
guias, tropeiros, cozinheiras, etc.
A viagem
não foi fácil, foram 66 dias de trilhas onde todos ficavam expostos à duras
condições, como chuvas, calor, caminhos ruins e imprevistos. Abaixo transcrevo
alguns trechos do diário de viagem de Otília:
”... fizemos uma viagem muito triste e
contrariada ...”(entre Caculé e Rompe Terra); “...aqui chegamos ao pôr do sol,
encontramos uma casa vazia e nela pousamos ...” (em Araça); “... aqui chegamos,
mamãe muito cansada ...” (em Brejinho); “... arranchamos na beira do rio ...”
(em Pé da Ladeira); “...passamos a noite de São João muito triste e num lugar
deserto ...” (em Vacaria); “...pousamos em Juramento, caminho muito ruim ...”;
“...esse dia perdemos, já tendo pousado no Cortume, voltamos para aqui ...”;
...este dia sofremos muito, caminhamos com a noite, com chuva e lama...”
(Pimenta) “... chegamos ... já de noite e com chuva (Piumbi); “neste dia as
meninas passaram mal ...” (São Sebastião dos Franciscos); “...hoje... foi Deus
servido em levar ... minha querida irmãzinha Otacilia ... “(Ventania) Otacilia
morreu com sete anos incompletos.”
Fontes:
Sobre as
secas na Bahia: http://www.ppgh.ufba.br/IMG/pdf/As_Secas_da_Bahia_do_Sec_XIX_-_Graciela.pdf (Tese de mestrado de Graciela
Rodrigues Gonçalves)
Série de
artigos escritos por Mario Mazzei Guimarães em 1990
Você tem o relato completo da viagem? Poderíamos por no site (que a propósito tem uma máscara mais simples - www.familiacotrim.com.br) Fale comigo pelo email do site. Abs. Francisco
ResponderExcluirFrancisco, pelo seu blog, descobri que somos parentes. O Major Urbino Guimarães foi meu bisavô, pai da minha avó Oscarlina. O meu pai Pedro Guimarães Lobo era primo do Mário Mazzei Guimarães. Você tem acesso a esses diários da tia Otília? Gostaria muito de ver. Um abraço de sua "prima" Ana Lobo
ResponderExcluirOi Ana, vc tb é minha prima, o Urbino era o meu tio bisavô, a minha bisavó Arlinda de Oliveira Guimarães era irmã dele.
ResponderExcluirSou da linhagem Ferreira de Carvalho do sul de Minas, será que tem alguma relação?
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